Encurtamento muscular: O que é? Como ocorre? Qual o tratamento?

31/08/2018

Todo acadêmico de fisioterapia já inicia seu curso escutando sobre "encurtamento muscular", juntamente com sua forma de tratamento mais utilizada, as técnicas de alongamento. Mas você realmente sabe do que se trata esse assunto? O motivo pelo qual frequentemente ocorre? E as técnicas mais utilizadas para o seu tratamento? Nessa postagem vamos conversar sobre isso.


É fácil entender que o termo "encurtamento muscular" se trata das fibras da musculatura encurtadas, o que causa a perda da elasticidade, tornando os movimentos mais restritos e dificultosos. Segundo Gordon (1966), o encurtamento funcional do músculo é equivalente ao encurtamento dos sarcômeros (unidade funcional da contração muscular, composta por um arranjo característico de numerosas proteínas fibrilares e globulares), condição que prejudica a sobreposição fisiológica dos filamentos contráteis, diminuindo sua capacidade de gerar força.

A própria genética é um fator que interfere no alongamento muscular, mulheres por exemplo, costumam ser mais flexíveis que homens. Entretanto, esse não é o motivo pelo qual um cotovelo não consegue ser estendido, na melhor das hipóteses temos sim uma musculatura prejudicada nesse caso.

O encurtamento muscular pode ser decorrente de diversos fatores, tais como alinhamento postural incorreto, imobilização do músculo, fraqueza muscular e envelhecimento (MORENO et al, 2007), ou mesmo realizar por longo tempo treinamento da musculatura e não promover o alongamento.

Em atividades físicas nas quais as fibras musculares tenham sido recrutadas durante vários minutos ou até mesmo por horas, como ocorre em atletas de grande porte (ex. ciclistas, maratonistas), milhares de contrações dos sarcômeros são realizadas e, por este motivo, é natural que as unidades motoras encontrem-se com sua zona de sobreposição aumentada, realidade que predispõe o desenvolvimento de encurtamento muscular caso um alongamento direcionado às cadeias musculares recrutadas não seja realizado após o término dos exercícios (KISNER, 2005).

Quando o músculo é imobilizado, sua mobilidade é alterada devido às modificações das proteínas contráteis e do metabolismo das mitocôndrias, resultando em diminuição do número de sarcômeros e aumento na deposição de tecido conjuntivo (WILLIAMS, 1979), levando ao encurtamento muscular e limitação da mobilidade articular.

A ocorrência de encurtamentos musculares pode gerar lesões nas fibras musculares. É comum em músculos que sofrem com o encurtamento, os episódios de estiramento muscular. A força tênsil exercida sobre o músculo leva a um excessivo estiramento das miofibrilas e, consequentemente, a uma ruptura próxima à junção miotendínea. Os estiramentos musculares são tipicamente observados nos músculos superficiais que trabalham cruzando duas articulações, como os músculos reto femoral, semitendíneo e gastrocnêmio (FERNANDES; PEDRINELLI; HERNANDEZ, 2010).

Estiramentos e contusões leves (grau I) representam uma lesão de apenas algumas fibras musculares com pequeno edema e desconforto, acompanhadas de nenhuma ou mínima perda de força e restrição de movimentos. Não é possível palpar-se qualquer defeito muscular durante a contração muscular. Apesar de a dor não causar incapacidade funcional significativa, a manutenção do atleta em atividade não é recomendada devido ao grande risco de aumentar a extensão da lesão (HERNANDEZ, 1996).

Estiramentos e contusões moderadas (grau II) provocam um dano maior ao músculo com evidente perda de função (habilidade para contrair). É possível palpar- -se um pequeno defeito muscular, ou gap, no sítio da lesão, e ocorre a formação de um discreto hematoma local com eventual ecmose dentro de dois a três dias. A evolução para a cicatrização costuma durar de duas a três semanas e, ao redor de um mês, o paciente pode retornar à atividade física de forma lenta e cuidadosa (HERNANDEZ, 1996).

Uma lesão estendendo-se por toda a sessão transversa do músculo e resultando em virtualmente completa perda de função muscular e dor intensa é determinada como estiramento ou contusão grave (grau III). A falha na estrutura muscular é evidente, e a equimose costuma ser extensa, situando-se muitas vezes distante ao local da ruptura. O tempo de cicatrização desta lesão varia de quatro a seis semanas. Este tipo de lesão necessita de reabilitação intensa e por períodos longos de até três a quatro meses. O paciente pode permanecer com algum grau de dor por meses após a ocorrência e tratamento da lesão (HERNANDEZ, 1996).

Afim de evitar esse tipo de lesão ou outras, temos técnicas que ajudam a eliminar o encurtamento muscular, sendo também de grande ajuda a conscientização do paciente. Numerosas técnicas de alongamento têm sido desenvolvidas, registradas, e aplicadas por fisioterapeutas e educadores físicos. Na fisiatria e fisioterapia, alongamentos são usados para melhorar a ADM e função após trauma e períodos de imobilização (HALBERTSMA et al, 1999).

O alongamento é uma manobra terapêutica utilizada para aumentar a mobilidade dos tecidos moles por promover aumento do comprimento das estruturas que tiveram encurtamento adaptativo (KISNER, 2005), podendo ser definido também como técnica utilizada para aumentar a extensibilidade musculotendínea e do tecido conjuntivo periarticular, contribuindo para aumentar a flexibilidade articular, isto é, aumentar a amplitude de movimento (ADM). Suas modalidades são: alongamento estático, alongamento balístico e alongamento por facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) ( HALBERTSMA,1999) (KNUDSON, 2008).

São benefícios do alongamento a diminuição direta da tensão muscular através das mudanças viscoelásticas passivas ou diminuição indireta devido à inibição reflexa e à consequente mudança na viscoelasticidade oriundas da redução de pontes cruzadas entre actina e miosina. A tensão muscular diminuída permite, então, aumento da amplitude articular (SHRIER; GOSSAL, 2000).

É importante ressaltar que o alongamento é utilizado para tratamento, porém em excesso podem facilitar a ocorrência de lesões também. Existem vários testes voltados para cada musculatura pelos quais podemos encontrar encurtamentos pelo corpo. A imagem dessa postagem é voltado para o grupo muscular dos isquiotibiais, por exemplo. O fato de um grupo ou uma musculatura estar encurtada, faz com que um outro componente muscular sem danos, trabalhe mais. São os chamados movimentos compensatórios. 

E então chegamos ao fim de mais uma postagem, espero ter ajudado vocês. Até a próxima. 

SAMIRA CUNHA
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